O futuro das fontes de energias
alternativas no Brasil são eólica e biomassa, afirmam autoridades brasileiras
do setor ao enfatizar que a predominância do país continuará com sua matriz
hídrica. O Brasil poderá passar a ocupar, em 2013, a 10ª posição entre os
maiores produtores de energia eólica do mundo.
A energia elétrica renovável no Brasil
representa 13% da participação mundial renovável. Segundo a Empresa de Pesquisa
Energética (EPE), a fonte de energia eólica já é a segunda mais competitiva no
país, perdendo somente para a hidrelétrica.
O plano decenal de expansão de energia
2020 prevê que o consumo energético crescerá a uma média anual de 5% e requer
investimentos da ordem de R$ 1 bilhão (U$S 500 milhões). A geração oriunda de
fontes alternativas irá dobrar em 10 anos, de 8% para 16%. Só a geração eólica
aumentará de 1% para 7%.
Segundo o secretário-executivo do
Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, o país tem o maior percentual
de energia renovável do mundo na sua matriz tanto elétrica quanto energética.
“O Brasil assumiu compromissos voluntários em Copenhague que viraram lei em
2010 e vai continuar priorizando a matriz renovável, o nosso carro chefe é a
hidroeletricidade. E ainda temos um potencial grande. Vamos desenvolvendo
complementarmente a biomassa e a eólica, que estão dando sinais econômicos para
se desenvolver”, admitiu Zimmermann.
Os sinais de que a energia eólica tem
mostrado viabilidade vem do preço. Há seis anos o megawatt/hora custava R$ 300
(U$S 150) e, atualmente, chegou ao patamar de R$ 100 (U$S 50) sem necessitar de
subsídios do governo. Segundo explicou à IPS o coordenador do grupo de estudos
do setor elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de
Castro, o potencial eólico no Brasil cresceu em competitividade mediante a
crise internacional que afetou as economias norte-americana e europeias.“A crise mundial europeia fez com que
a indústria eólica mundial viesse para o Brasil. As 11 maiores companhias no
mundo estão se instalando no país. Das fontes alternativas hoje a mais
importante é a eólica e, em segundo lugar a biomassa, que vem do bagaço da
cana”, afirmou Nivalde.
Divergência
sobre Hidrelétricas emergem na Rio+20
Mas quando o tema é hidroeletricidade,
as opiniões entre políticos, especialistas e ambientalistas divergem
radicalmente na conferência Rio+20 e na Cúpula dos Povos. Para uns, a
construção de usinas hidrelétricas não tem uma pegada de carbono expressiva e resolve
problemas sociais ao remanejar famílias para áreas com melhores condições de
saneamento e acesso à água. Para outros, no entanto, as mega hidroelétricas não
tem sustentabilidade e geram um grande impacto ambiental.
Na Amazônia, existem atualmente quatro
usinas em construção: duas no rio Madeira, no estado de Rondônia, Santo Antônio
e Jirau; Belo Monte no rio Xingu, no Pará; e Tapajós, no rio que leva o mesmo
nome no Pará.
O diretor do Centro de Pesquisa de
Energia (Cepel), Albert Melo, contrariou o pensamento de muitos ao apresentar o
dado de que 0,2% do território da região amazônica está ocupado por
hidrelétricas e que, segundo ele, nos próximos 10 anos, a previsão é de que
esse número tenha um crescimento de 0,1%.
Segundo Nivalde de Castro, a construção
Belo Monte é viável e sua pegada de carbono é baixa. O país hoje fornece
energia a um custo mais baixo do mundo, U$S 40 o megawatt.“Ninguém constrói uma
usina e gera energia mais barato que o Brasil. Nada está sendo feito ao arrepio
da lei seguindo as exigências ambientais. O Brasil está fazendo a usina de fio
d’água que segue o curso do rio e a turbina se move pelo fluxo da água. É uma
forma que evita grandes lagos. Belo Monte originalmente teria um alagamento de
1.400 km², com essa solução de construir a fio d’água, o lago passou para 440
km²”, argumentou.
Questionado por IPS se Belo Monte é um
empreendimento sustentavelmente viável, o pesquisador garante que sim. “É uma
polêmica sem fundamento técnico. As usinas a fio d’água são um vetor de desenvolvimento
para uma região pobre”, discutiu.
Como o que menos há na Conferência
Rio+20 é consenso, lideranças comunitárias e ativistas se dizem radicalmente
contra. O líder indígena do Acre, Sebastião Rodrigues Manchineri, quem preside
a União das Nações Indígenas do Acre e, na Cúpula dos Povos, representa as
organizações indígenas da bacia amazônica, é um forte crítico ao tema.“As mega
hidroelétricas não tem sustentabilidade. Em algum momento vão ter alguma pane y
causar muitos danos ambientais. Optamos por uma energia mais renovável, como a
eólica com a participação da natureza”, disse à IPS.
Já o coordenador geral da Organização
Regional dos Povos Andinos, Miguel Palacios, indígena quechua do Peru, afirma
que rejeita as usinas na floresta amazônica.“Estes projetos que eram dos
governos de direita agora estão sendo implementados pelos de esquerda. São as
hidrelétricas, as rodovias, todos os empreendimentos a favor das corporações
multinacionais que tem grande apoio do governo do Brasil com banco que financiam
projetos a favor das corporações e não dos povos”, criticou.
Palácios defende um retorno a fontes
de energia que restaurem a harmonia da terra e da natureza. “Não queremos fazer
para alguns em detrimento de outros”.
Já o diretor da campanha da Amazônia
do Greenpeace, Paulo Adario, afirma ser favorável à energia de fonte hídrica
por ser renovável, porém não defende mega empreendimentos na Amazônia. “Há
outras alternativas, não só nas fontes como eólica, mas também é possível
melhorar a eficiência energética de algumas usinas que são antigas substituindo
turbinas e geradores por mais modernos. As grandes hidroelétricas tem alto
impacto social e ambiental. Temos que fazer a opção se queremos eletricidade
com segurança energética com ou sem destruição”, ponderou Adario.
(IPS/TerraViva)
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