quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Alimentos causam quase 1/3 das emissões do efeito estufa

A mudança climática deve reduzir nas próximas décadas a produtividade dos três produtos agrícolas que mais fornecem calorias à humanidade - milho, trigo e arroz
A produção de alimentos responde por até 29 por cento das emissões humanas de gases do efeito estufa, o dobro do que a ONU estimava.


A produção de alimentos responde por até 29 por cento das emissões humanas de gases do efeito estufa, o dobro do que a ONU estimava, segundo um estudo publicado, esta Quarta-feira (31).

A diferença ocorre porque a ONU avaliou apenas as emissões decorrentes da agricultura, ao passo que a entidade de pesquisas agrícolas CGIAR levou em conta também o desmatamento, a produção de fertilizantes e o transporte dos produtos agrícolas.

O relatório, intitulado "Mudança Climática e Sistemas Alimentares", estima que a produção de alimentos gere 19 a 29 por cento de todas as emissões humanas. A estimativa da ONU era de 14 por cento.

"Do ponto de vista alimentar, a abordagem da ONU não faz sentido", disse Bruce Campbell, director do programa de pesquisas da CGIAR sobre mudança climática, agricultura e segurança alimentar. Muitos países poderiam fazer uma economia significativa se reduzissem as suas emissões, segundo ele.

"Há boas razões económicas para melhorar a eficiência na agricultura, não só para reduzir as emissões de gases do efeito estufa."

A China, por exemplo, poderia reduzir fortemente as suas emissões se melhorasse a eficiência na fabricação de fertilizantes. Na Grã-Bretanha, seria mais vantajoso consumir carne de cordeiro importada de fazendas mais eficientes na Nova Zelândia, em vez de criar os seus próprios animais.

Outra recomendação do relatório é para que o mundo altere a sua dieta, dando preferência ao vegetarianismo. O cultivo de alimentos para vacas, porcos e ovelhas ocupa muito mais terras e emite mais gases do efeito estufa do que a manutenção de lavouras para o consumo humano.

Outro relatório do CGIAR indica que a mudança climática deve reduzir nas próximas décadas a produtividade dos três produtos agrícolas que mais fornecem calorias à humanidade - milho, trigo e arroz - nos países em desenvolvimento.

Isso obrigaria alguns agricultores a optarem por cultivos mais tolerantes ao calor, a inundações e a secas, segundo o segundo relatório, intitulado "Recalibrando a Produção Alimentar no Mundo em Desenvolvimento".

Os cultivos mais resistentes, como inhame, cevada, feijão-fradinho, milheto, lentilha, mandioca e banana, podem preencher o espaço deixado por produtos mais sensíveis, diz o estudo.

"Os sistemas agrícolas mundiais enfrentam uma árdua luta para alimentar os projectados 9 a 10 bilhões de pessoas em 2050. A mudança climática introduz um obstáculo significativo pra essa luta", disse o texto.

A população mundial actualmente está ligeiramente acima dos 7 bilhões. O estudo diz também que o aquecimento global, atribuído por cientistas da ONU à actividades humanas como a queima de combustíveis fósseis, implica riscos para a produção alimentar além das lavouras, por gerar problemas também no armazenamento e transporte.

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